Ele chegou, está lá fora! Um
curto alvoroço toma conta dos olhos de todos, ou quase. Vamos ajeitando lugar. O dele já está guardado, é aqui. A sala
fica pequena, o ar frio não dá conta de esfriar. É preciso mais cadeiras. E
mais espaço. Aqui ficam os convidados,
que lá dentro não cabem mais. Fiquem à vontade. – Muito obrigada. Outros
ainda se incomodam. Mas, daqui, eu não
ouço nada! Calma, amigo. Está difícil por conta do ventilador barulhento. Se desligar, fica muito quente... É
verdade. Alguns aqui, são dos nossos.
Consigo ouvir quase nada, apenas o timbre da voz misturado às ondas de vento
quente, que o ventilador dá conta de empurrar, em seu máximo esforço. Vou sentar mais perto, você vem? – Pode ir.
Fico aqui. Todos acabam se aproximando um tanto. Ainda não o ouço bem. Mas
seus olhos. Ah... Olhos atentos... Seus movimentos parecem traduzir um cansaço
físico, ou esforço para o movimento. No conversar, ao escutar, concorda
balançando a cabeça junto do tronco, levando-os para frente e para trás algumas
vezes, em gesto bem marcado. Os olhos continuam atentos. Fixam-se e
desprendem-se aos outros numa faculdade adesiva daqueles que sabem olhar, com
amor ou por meio dele. Alguns questionamentos o trazem aqui. Perguntas feitas.
A maioria para saber A quantas anda a
arte literária na cidade? Disseram que bem. Disseram que têm. Mas quem botou essa mulher pra falar? Ela
faz uma piada. Bem, não sei. Mas aqui na
cidade tem alguma editora? – Tem gráficas excelentes. Quem botou essa
mulher pra falar? – Mas tem alguma
editora? – Não, editora não. Fora editais, os escritores é quem banca. Tem
havido trabalhos lindos nas escolas. Disse que sim. Onde está você, Tito?
Pr’ond’é que você foi, amigo? Você não está aqui agora. Estava até pouco tempo
atrás, eu vi. Estava sim! Mas agora, não. Agora você não está aqui. Eu acredito é nas crianças, Thiago
disse. Seu falar navega pelo vento quente. A voz parece ganhar espaço, se
expande ao sair. Quem ganha com isto são nossos ouvidos, nossos corações.
Feitos alvo certeiro pros seus pensamentos lindos. E pensamentos lidos. Seus
movimentos parecem compassados, lentos, com calma, bem pensados ou bem sentidos,
não sei. Mas causam vício aos olhos. As mãos se alongam no mexer, os dedos
esticam. Num vai-e-volta dançado à música que se ouve do seu falar. Mãos
apoiadas à mesa, agora. Vagarosas. Os dedos, não. Assumem a velocidade de
dentro, talvez? Os dedos estão rápidos. Como num piano em sinfonia. Não param
sobre a mesa. A tocam e destocam. Não param. Que calor! Ainda ouço quase nada. Os dedos não param. Acho que podemos desligar o ventilador. –
Que calor! Melhorou. Eu acredito é
nas crianças. Um cochicho entre as cadeiras. Mas quem botou essa mulher pra falar? Que cara é essa, Tito? Respire, Tito. Acredite, vai dar certo.
Tem gente boa vindo aí. Acredita. O peito pula, não? Segura ele um pouco, Tito.
Ainda não é hora. Shhhh... Mas quem botou
essa mulher pra falar? É às crianças que ele volta a atenção. E às crianças
das crianças. É preciso que se leia! Que
se ensine a importância mais do livro do que da televisão e do meio
virtual-eletrônico. Há aqueles que buscam imortalidade sem leitura. Há aqueles
da acadimia que não lêem. E também aqueles fora da acadimia. Ele não acredita tanto quanto, nestes. Eu nem faço minha promoção. Lindo
Thiago... Alguém inventa uma piada.
Não sei se entendi. Não sei se quero entender. Mas quem botou essa mulher pra falar? Ela quer mais promoção. Ah, se houvesse mais... Não entenderam?
Não é isto que é o mais importante. Não é isto, mulher. Você quer mais
promoção. Ele não. Ele comenta dos amigos, grandes amigos. Nossos conhecidos de
nome. Que calor! A água da torneira
refresca. Porque me olham assim? Vai uma
água aí? Bem, não querem. Ele fala dos olhos de alguém. Gostou. Tanta coisa
a contar. Tanto passa pela cabeça. É tanto, que partilha as estórias e
intercala assuntos. Mas os retoma feito juntar pedacinhos dum todo, duma coisa
só. Fala do esforço preciso. Da luta. Dos deveres da acadimia. Do bem, do bom, da esperança. Fala mais. Fala tanto. Que
gostoso ouvir-te, querido... Que felicidade. Os dedos param. Não sou grande. Sou querido. És um
grande querido, querido. Tu és amor. E assim fico, esta noite: inundada em
amor.
Muito bom! Nova geração surgindo, querendo escrever, pedindo passagem. Para Deus, uma repetição; para nós que vivemos uma vida só, uma saga! Parabéns, Amanda. Hélio Consolaro
ResponderExcluirMuito grata Hélio! E que essa saga continue... =)
ExcluirUau! Adorei!
ResponderExcluirAdmiro aqueles que conseguem expressar o momento vivido...
Parabéns!!
Que gratidão Douglas! Fico muito feliz que tenha gostado.
ResponderExcluirLindo...e mais não precisa
ResponderExcluirObrigada Hamilton!
ExcluirTenho dito entre os colegas, estudiosos e alunos, os quais, cada um à sua maneira, interagem com a literatura, que há uma crônica essencialmente literária, por vezes de cunho poético, e outra de caráter mais jornalístico. Esta sua, Amanda, é típico exemplo da primeira. Emoção e reflexão imbricadas e sob o domínio da cronista. Olhar amplexo e arguto captando o todo, à medida que perscruta as partes, ressaltando, reiteradamente, as que mais percutem sua percepção poética. Língua escorreita, linguagem enxuta. A imagem analógica, de fundo, que me ia suscitando a leitura: “A Última Ceia”, afresco de Leonardo da Vinci. Quanto àquele Tito, qualquer hora, oportunamente, explicitá-lo-ei a você.
ResponderExcluirUm abraço
Tito
A gratidão é imensa. Obrigada pelo abraço no todo, através das palavras.
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